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Ao escrever a primeira parte do artigo O que acontece aos 40? tomei como base as inquietações, questionamentos, reflexões e mudanças que particularmente vivenciei ao chegar próxima aos 40 anos.
Percebia que o mesmo ocorria com pessoas nessa faixa etária.
Ao escrever esta segunda parte, entrevistei três profissionais que passaram ou ainda estão passando pelos momentos de reflexão, ruptura, transição e consolidação das mudanças. Aqui, compartilho com todos os relatos e análises desse trabalho.
Em todas as entrevistas, foram utilizadas as mesmas perguntas:
Então que “bichinho” é esse que nos morde por volta dos 40 anos?
Que valores começamos a reavaliar?
Que outras possibilidades temos daqui para frente?
Que sentimentos temos ao passar por essa transição?
Como nos preparar para fazer essas mudanças que queremos fazer?
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Entrevistada 1: sexo feminino, atuou como Advogada por 20 anos e atualmente é Sócia de uma Imobiliária.
Relata que as inquietações começaram três anos antes de completar 40 anos e que as mesmas tiveram como ponto principal a descoberta e consciência de que um valor essencial para a mesma não estava sendo atendido dentro da Advocacia.
Assim, teve início a busca por outras possibilidades.
A mesma avalia que ao tomar sua decisão, fechou seu escritório e ficou por 06 meses desvinculada de qualquer ambiente ou atuação profissional e esse foi um momento em que vivenciou o sentimento de medo. Medo de que não encontrasse o que gostaria de fazer, medo de que não aparecesse uma oportunidade, o medo do novo, o medo de efetivamente deixar a profissão de tantos anos e tão conhecida.
Um aspecto importante citado por ela, foi a necessidade de ajuda terapêutica; que buscou logo nas primeiras inquietações e que considera ter sido determinante para o sucesso de sua jornada.
Tomada a decisão, a oportunidade surgiu de um negócio do qual tinha conhecimento e que faz parte do DNA da família, o ramo imobiliário. No entanto, cita que precisou aprender e ainda aprende sobre o novo negócio principalmente as questões de como trabalhar em sociedade, em conjunto e faz o exercício diário de repensar e rever atitudes para entender e potencializar as diferenças entre as pessoas.
Ainda relata que trouxe muitos de seus aprendizados da carreira anterior e que os agrega ao novo negócio.
Hoje sente-se desafiada, feliz, avalia que pode contribuir mais efetivamente para as pessoas e a sociedade e que esse é um momento em que tem a percepção de que seus valores pessoais estão alinhados à sua atuação profissional.
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Entrevistado 2: sexo masculino, 43 anos, Engenheiro de Telecomunicações com Mestrado em Administração Financeira.
O entrevistado pondera que dos 20 aos 30 anos temos a fase de escolha e busca do que seremos profissionalmente; dos 30 aos 40 vivemos a fase de consolidação da carreira, momento de plena energia, carga e investimento no trabalho e vida profissional. E aos 40 anos começamos a ter a percepção de que a vida é finita, já não temos mais toda aquela energia dos 30 e sentimos um “baque” e então passamos a refletir. Cita que perto dessa fase “refletiu demais” e chegou a conclusão de que estava no meio da vida e que o tempo agora tinha um valor muito importante e diferente do que percebia antes. A partir disso começou a se fazer algumas perguntas:
“Estou no trabalho que quero?”;
“ O que falta”;
“O que pode ser complementado”;
Como resultado dessas questões passou a ser mais exigente com a qualidade de seu trabalho, de suas entregas e de seu conhecimento e não com a quantidade do mesmo; refletiu que tinha um novo conceito de sucesso; decidiu fazer mestrado em Administração e Finanças que está em fase de conclusão visando melhoria de sua formação; adquiriu maior “leveza” em relação ao trabalho e suas auto cobranças; e como o tempo é algo importante para o mesmo, tem dedicado mais dele ao convívio com sua família.
Acredita que ainda está no processo de transição, relata que às vezes “pena” um pouco, sente medo, insegurança e acha que esse medo sempre fará parte da vida. Avalia que o principal fruto colhido nesse processo todo e que veio com os 40 anos foi a maturidade.
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Entrevistada 3: 41 anos, atua há 20 anos como Dentista e está cursando o último ano de Direito.
A entrevistada relata que a sua decisão em fazer Direito foi tomada aos 36 anos a partir do momento em que viu um colega bem sucedido na profissão fazer uma escolha profissional totalmente diferente do ramo. Isso a fez refletir que gostaria de continuar usando toda sua energia e vontade que tem em continuar a trabalhar. Pelo histórico que se tem, a atuação na profissão de odontólogo tem um prazo de validade principalmente em decorrência das questões de postura.
A escolha pelo Direito naquele momento, foi direcionada por ter sido esse um dos cursos que ela pensava em conduzir em paralelo com o de Odontologia; por conviver com familiar que tem uma carreira bem sucedida no ramo e ainda por buscar algo que em sua visão pode permitir uma maior flexibilidade de horário.
A entrevistada contou que ao tomar essa decisão ponderou que com uma nova possibilidade, com um “plano B”, poderia parar a atividade atual quando quisesse e não tendo que deparar no futuro com falta de opção caso se visse pressionada a buscar novos caminhos.
Relata que encontra-se no momento crucial de tomar a decisão entre deixar seu trabalho atual e aos poucos através de uma experiência voltada mais para a área administrativa de um escritório de advocacia, fazer a transição para sua nova carreira.
A mesma pondera que um dos sentimentos que vem à tona é o medo, o medo do novo, de deixar algo totalmente familiar e ir em rumo ao desconhecido, no entanto está consciente disso e ao mesmo tempo sente-se desafiada.
Sobre ajuda, relata que conta com o apoio do esposo e buscou auto conhecimento na Antroposofia, o que a ajudou nos momentos mais críticos.
Concluiu a entrevista dizendo que sua decisão já está tomada e como reflexo disso, vem desacelarando sua agenda no consultório de Odontologia.
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Essas entrevistas com pessoas de experiências, vivências, e formações tão distintas trazem muitos aspectos comuns:
1) As inquietações e reflexões começaram antes ou por volta dos 40 anos;
2) Todas as perguntas e questionamentos vieram da constatação de que algo havia mudado e que a situação atual já não condizia com algum valor essencial e ali havia se instalado algum conflito ou insatisfação;
3) Todas avaliaram novas possibilidades ou então reavaliaram como poderiam fazer diferente;
4) O medo foi algo falado, considerado, experimentado, sentido e respeitado por todos;
5) As pessoas buscaram algum tipo de ajuda, de apoio;
6) Ao encontrar novos caminhos, estes foram condizentes com os valores das pessoas, eles se alinharam e fizeram sentido para as mesmas; o que conferiu tranquilidade em relação ao novo caminho que elas buscaram;
7) As pessoas se prepararam em termos de aquisição de novos conhecimentos ou habilidades para a nova profissão ou o novo caminho, seja através de uma formação, uma especialização, conversas direcionadas com quem entende e atua no negócio de interesse;
8) O brilho nos olhos pelo desafio, a coragem, o sorriso e contentamento pela realização de um desejo.
Ao ouvir os relatos, ao transcrevê-los, a palavra MEDO ficou pulando na minha frente o tempo todo e quero fechar esse artigo colocando um holofote sobre o MEDO.
O MEDO é a emoção básica e autêntica que nos protege!! Sendo assim, ele tem grande importância em nossa vida. Mas ao ser ignorado, ao não termos consciência dele, ou não admitirmos ou nos permitir senti-lo, entram em ação os disfarces do MEDO: a insegurança, a ansiedade, indecisão … e isso sim, torna-se um vilão e nos trava, nos paralisa e nos impede de seguir adiante.
Mas o MEDO mesmo, sentido como tal, autêntico e verdadeiro nos faz ser cuidadosos, faz com que nos preparemos, que busquemos informações, conhecimento e auto conhecimento, ele nos move com segurança em busca de novos caminhos.
Será então que perto dos 40 com MEDO da finitude da vida queremos dar um novo sentido a ela? Então com MEDO do que será nosso futuro pessoal ou profissional queremos reinventá-lo, redesenhá-lo? E com isso somos incentivados a adotar ações para evitar esses “perigos”!! E vamos em busca de novos sentidos, de alinhar práticas e valores, de estudar e aprender mais, de rever nossa qualidade de vida, de tempo, de relacionamentos, de trabalhos, de amor. De colocar toda a nossa energia a serviço da vida!! A vida que temos pela frente e precisa ser muito bem vivida. E assim, conscientes, desmitificamos o MEDO e o tornamos nosso aliado.
Tudo na vida tem a sua antítese!! Dia e Noite; Início e Fim; Cheio e Vazio… No momento em que nos sentimos prontos, somos tomados pela CORAGEM que vem de COR = CORAÇÃO (COR + AÇÃO), e aí sim, fazemos a virada da chave, tomamos a decisão da mudança alinhada aos nossos valores e muitas vezes nos reinventamos ou recomeçamos.
Obrigada a cada um dos entrevistados pelos relatos e por compartilharem conosco seu Medo e Coragem!
Escrito por Carla Lima
Consultora em Desenvolvimento de Pessoas e Coach
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